Cego
recebeu as pensões
de um tio
A falta de um papel traduzido levou ontem
o Tribunal de Leiria a adiar o início do julgamento de
um invisual, acusado de burlar a segurança social francesa
em 155 mil euros, ao assumir a identidade de um tio com o mesmo
nome e apelido.
O arguido, Adelino Marques, de 71 anos, terá aproveitado
os descontos feitos em França pelo tio para receber, durante
18 anos, uma pensão de velhice e um complemento de reforma
da Caixa francesa.
Segundo
a Acusação do Ministério Público,
o esquema foi iniciado em Janeiro de 1982 e prolongou-se até Novembro
de 2000. O arguido ter-se-á apercebido de que um tio – com
o mesmo nome e apelido – tinha descontado para a Caixa
francesa e estava dado como desaparecido, sem que a morte tivesse
sido declarada.
Valendo-se
disso, o alegado burlão requereu a pensão
de reforma em nome do tio, dizendo que havia regressado a Portugal.
Para tornar o pedido mais credível, juntou uma certidão
de baptismo do familiar desaparecido e um atestado de vida e
de residência, passado pela Junta de Freguesia de Albergaria-dos-Doze.
As
instituições de protecção social
francesas suspeitaram da burla, anos mais tarde, mas nessa altura
já o invisual tinha conseguido tirar um bilhete de identidade
em nome do tio. Voltou a enviar nova prova de vida, juntamente
com uma cópia daquele documento, e as pensões continuaram
a ser pagas.
Como
as autoridades francesas continuavam a suspeitar do caso e não paravam de fazer perguntas, o invisual decidiu ‘matar’ o
tio. E, em Novembro de 2000, conseguiu que uma médica
de Monte Redondo assinasse uma certidão de óbito
falsa, para pôr termo à burla.
A
manobra, porém, foi tardia. O Ministério Público
recebeu informações sobre a suposta ilegalidade,
investigou-as e reuniu provas para formular a Acusação,
constituindo arguidas quatro pessoas: o invisual, por crimes
de burla e falsificação; um filho e um vizinho,
por suspeita de auxílio na concretização
do crime; e a médica, acusada de validar uma certidão
de óbito falsa.
Em
declarações ao CM, que revelou o caso há seis
anos, o principal suspeito nega todas as acusações. “Nada
disso é verdade”, garantiu Adelino Marques, agora
com residência na Murzeleira, uma aldeia próxima
de Pombal. (...)