Texto
de Adriana Afonso
“
Ainda tenho medo que volte a acontecer”. Essa é a
afirmação mais repetida quando se recorda a inundação
que, há exactamente um ano atingiu a cidade. Depois de
milhares de euros de prejuízo, tanto comerciais quanto
pessoais, alguns pombalenses contaram a O ECO como foi aquele
dia, os seguintes, e o que sentem hoje.
João Paulo Silva, sócio e director comercial da
Parqueadora Pombalense, na Avenida Heróis do Ultramar,
lembra que “demorámos quase três meses a abrir.
O prejuízo foi de 50 mil euros e o seguro cobriu menos
de 50 por cento. Não foi o que estávamos à espera,
mas não podemos estar agarrados a isso. Não tivemos
o apoio de ninguém e, o que a Câmara Municipal fez,
fez para todos, limpando as ruas. Da nossa parte amigos e funcionários
ajudaram a limpar e a erguer”. Agora, “tememos que
aconteça de novo. Não sabemos se foram tomadas
providências para acautelar uma nova situação.
Acredito que possa acontecer novamente se não foram tomadas
essas providências”.
E o que pensar quando, em plena madrugada, se observa a sua loja
ser inundada e o seu carro levado, sem ter seguro? Foi isso que
aconteceu com Joel Silva. “A minha reacção
foi tremenda. Sabe o que é ver as coisas do lado de lá da
rua e não poder fazer nada? Dentro da loja já havia
mais de 20 centímetros de água, os carros circulavam
sozinhos na rotunda e eu não podia fazer nada. O meu carro
foi levado pela enchente e não teve conserto. Foi, acima
de tudo, um sentimento de impotência”. Com um prejuízo
na ordem dos 4500 euros, Joel Silva declara que fica nervoso
por achar “que a Câmara pensa que não houve
prejuízos acima do Pingo Doce, quando há negócios
que não voltaram a abrir e pessoas que nunca mais se recuperaram”.
Contudo, não quer ajudas: “Quero é o descanso
de saber que amanhã não vai acontecer nada desse
género”.
Esquecer como?
Uma das ruas mais atingidas pela enxurrada foi
a Rua de Santa Luzia, com muitos estabelecimentos comerciais
atingidos – incluindo
o Pombal Shopping – e a sua garagem, com perda de várias
viaturas. António Dias assegura que “não
vamos esquecer tão cedo o 25 de Outubro. É uma
imagem muito séria e grave. Não moramos em Pombal
e soubemos de madrugada, mas não estávamos preparados
para o que encontrámos: a imagem de uma grande inundação
com mais de um metro de água dentro da loja. Sem seguro,
tivemos que começar de novo. Agora, o receio mantém-se”.
Também na Rua Direita, a lembrança da lama que
entrou dentro dos estabelecimentos ainda está bem viva. “Não
gosto de recordar isso. Foi um desespero muito grande. Nunca
imaginava que um dia iria entrar água por aqui. E nem
fui a mais atingida. Cada vez que penso nos colegas no Centro
Comercial do Cardal até me arrepio. Espero que isso não
volte a acontecer, mas confesso que tenho medo da chuva agora”,
afirmou uma lojista que não quis identificar-se.
Na Rua Professor Gonçalves Figueira, Frederico Jorge,
gerente da Katysport, afirma que “custou bastante tentar
restabelecer a normalidade. Não fomos caso único,
houve vários. Mas, tentámos ser rápidos.
Era, talvez, mais uma questão psicológica. Esforçámo-nos
para retomar a normalidade e estivemos quatro dias fechados,
apesar da compreensão de fornecedores que nos deram tempo
extra para fazer face às nossas obrigações”.
O prejuízo elevado, na ordem dos 30 mil euros, foi minimizado
pelo seguro, apesar deste não cobrir tudo. “Não
sabíamos, mas temos um desnível no armazém
e havia muita mercadoria encaixotada que foi atingida pela água
e lama, ficando inutilizada”. Agora, um ano depois “temos
algum receio. Estamos a estudar uma forma de encaixar um sistema
nas portas para impedir a entrada de água. Temos consciência
que outra ocorrência dessas só daqui a, talvez,
algumas décadas. Bem… isso queremos nós”.