«
A tua irmã acabou de ser cadáver». Foi com
estas palavras que o alegado homicida de Maria do Rosário
avisou o irmão, as autoridades, tentando enforcar-se,
de seguida, na nespereira do quintal da casa. A tragédia
ocorreu ontem de manhã, na localidade de Matas, entre
os concelhos da Figueira e Pombal
Foi «por volta» das 8h30 de ontem que o telefone
de José Francisco Ventura das Neves tocou. «Daqui é o
Zé, a tua irmã acabou de ser cadáver»,
contou ao nosso Jornal o irmão da vítima, que,
apanhado de surpresa, ainda conseguiu perguntar: «onde?» recebendo
como resposta «aqui em casa», sendo a chamada desligada
logo de seguida.
«
Pensei que fosse pela doença», refere com voz embargada,
já que a irmã sofria de epilepsia, mas só depois
de falar com outros familiares, é que viria a perceber
o que se tinha passado.
O homicídio ocorreu no limite dos concelhos da Figueira
e Pombal, na localidade de Matas (freguesias de Marinha das Ondas
e Louriçal), no número 17 da Rua dos Amaros e veio
colocar um ponto final, numa relação que, tudo
indica, seria tempestuosa, até porque, o alegado autor
do crime «era um homem do vinho», disse José Francisco,
explicando que «ele batia nela e no menino de 7 anos»,
filho da vítima, que até já teria apresentado
queixa por agressão na GNR, e, «pelo menos por duas
vezes», havia sido acolhida por uma instituição
de solidariedade social.
Há cerca de dois anos que Maria do Rosário Neves,
de 47 anos, viúva e natural de Soure, decidiu ir viver
com José Antão (conhecido como Zé Rato),
de 57 anos, também viúvo, jardineiro.
Pelo que dizem os populares, as coisas não corriam da
melhor maneira apesar «de ele não falar com ninguém,
era como os índios». Ela era de mais falas, e ainda
na semana passada terá confidenciado a uma vizinha que
lhe perguntava porque tinha regressado, que «o meu Zé bate-me,
mas eu gosto dele».
«
Era um bocado esquisito, mas não é mau homem, o
pior era quando bebia», dizia ontem um outro popular, enquanto
a maioria dos presentes preferia remeter-se ao silêncio,
alegando que pouco conheciam do casal.
Dor e emoção
familiares
Junto à habitação, ao longo de toda a manhã de
ontem, foram diversos os populares que iam chegando, mas sem
se poderem aproximar, pois a área, vigiada por elementos
da GNR da Guia - que foram para o local substituir os colegas
do Paião -, tinha sido vedada por agentes da Polícia
Judiciária que, ao longo de hora e meia, estiveram no
interior da habitação e mais tarde, no exterior,
a analisar a nespereira e a corda ainda no local, com que José Antão
terá tentado por cobro à vida.
O ambiente era pacato, até à chegada dos familiares
que queriam a todo o custo ver a malograda vítima. «Ai
que desgosto tão grande», gritava a mãe de
Maria do Rosário, enquanto a irmã e a filha da
vítima inconformadas a chamavam na esperança de
obterem uma resposta.
Mais tarde, Maria Luísa Ventura contou aos jornalistas
que a filha e o companheiro tinham estado na noite de sexta-feira
em sua casa, e que ele lhe tinha dito: «eu vou preso, mas
a sua filha é enterrada», contava a idosa senhora,
enquanto recordava a queixa que havia sido apresentada na GNR
por alegados maus-tratos, mas que «ele arranjou forma da
minha filha retirar».
A morte de Maria do Rosário, que está a ser investigada
pela PJ, terá sido por estrangulamento e terá sido
o alegado homicida que telefonou para os Bombeiros Voluntários
na Figueira, que o terão socorrido quando este se tentou
enforcar na nespereira do quintal, tendo cortado a corda e prestado
os primeiros socorros no local. O homem acabou por ser transportado
para o Hospital Distrital da Figueira, de onde teve alta ao final
da tarde, sendo ouvido amanhã no Tribunal de Pombal.