A freguesia das Meirinhas fazia parte da paróquia de Santa
Maria de Vermoil. No reinado de D. João III surge mencionada
por causa do recenseamento populacional. Ainda como referência,
sabe-se que mais tarde e com o intuito de desenvolvimento, um
grupo de meirinhenses dirige-se à rainha D. Maria I, para
pedir uma feira franca para o dia 24 de cada mês. A feira
passou mais tarde a realizar-se a cada dia 14.
(saiba
mais)
|
A
descobrir
|
|
|
Igreja
Paroquial de Meirinhas
|
|
 . 
|
|
|
MEIRINHAS - Origens e recordações
Corria a década de cinquenta, no tempo em que terminava o curso de Humanidades
e principiava Filosofia, levado pela sede de saber, tudo aproveitava em férias,
embora de pouco pudesse dispôr, sobre a terra, gentes e tradições
e tudo o mais que dela pudesse indagar.
Conversava com pessoas mais novas e mais velhas e, sobretudo destas, que nem
sequer sabiam ler, ouvia coisas tao cheias de sabedoria, geralmente fundamentadas
na experiencia da vida, que, alem de muito valerem para a vida, me causavam
extraordinaria admiraçao.
Estou a lembrar-me da Ti Inacia Barreira, que vivia na casita de adubos da
terra, já perto da antiga capela. Era uma beleza ouvi-la... Recitava
decor aquelas quadras intermináveis, que tanto pareciamsalmos de sabedoria,
recheados de ensinamentos profundos e práticos para a vida, como hinos
de louvor ao Criador e à criação. Lembro-me de uma vez
a ouvir durante cerca de três horas... Nao tinha gravador e quando tento
apanhar algumas por escrito nas férias seguintes, Deus levou-a. Que
pena, tudo se perdeu!
Quem Ihe terá ensinado tanta coisa? Certamente os pais, os avós,
ou outros familiares, que ocupavam assim o tempo à volta da lareira
nos longos serões do Inverno.
Uma outra pessoaque gostava, de falar comigo, era 0 Ti Zé Mota, das
Meirinhas de Baixo. Recitava os versos que tinha feito sobre o alfabeto, uma
quadra para cada letra e que terminava assim:
A ciência Deus a dá
Diz o homem mais esperto
o Zé Mota das Meirinhas de Baixo
Fez o A. B. C. completo
Foi dele que ouvi pela primeira vez. a
versão sobre a origem das Meirinhas.
" 0 primeiro homem que veio para este lugar, chamava-se Luis Meirinho. Este
teve duas filhas. Uma casou-se e foi morar para o fundo do lugar e a outra que
também se veio a casar, ficou a morar no cimo do lugar.
Quando precisavam uma da outra, mandavam os respectivos filhos à casa
da tia com necessário recado. Assim a Meirinha de cima dizia: vai a
casa da tia Meirinha de Baixo, levar isto ou aquiilo. E esta: vai a casa da
tia Meirinha de Cima buscar aquela coisa.
Daí Meirinhas, (porque duas filhas) Meirinha de Cima e de Baixo.
Meirinho (do latim majorinu) era antigo empregado judicial, correspondente
hoje ao moderno oficial de deligencias.
Não terá sido o dito Luis Meirinho, oficial de deligencias do
Tribunal de Comarca de Leiria? 0 apelido muitas vezes derivava da própria
profissão e até mudava ou atribuia-se aos filhos por força
da profissão dos pais ou a dos avós,
Creio que o Tribunal de Pombal, criado mais tarde, (antigamente e ate
mesmo ha 50, 40 e 30 anos) tinha muito que fazer sobre as populações
do concelho, razão porque teria tambem urn funcionário proprio,
das futuras Meirinhas, o qual se chamava Luis e que do seu pai ou avo teria
recebido o apelido. Seja como for aqui fica esta hipotese consideração,
aberta a futura indagação.
Texto do nosso conterrâneo Padre
Ramiro Portela in GUIA DE MEIRINHAS 1995 |
VISITE TAMBÉM O SITE
WWW.MEIRINHAS.COM
...A área da freguesia de Meirinhas fez parte, pelo menos desde os inícios
do século XIII, da paróquia de Sta. Maria de Vermoil, que se
identifica certamente com a Igreja de Sta. Maria de Litém mencionada
numa convenção efectuada em 1211 entre o Mosteiro da Sta. Cruz
de Coimbra e os Clérigos seculares de Leiria.
....No entanto, o lugar das Meirinhas só aparece na documentação
escrita conhecida no século XVI. De facto, os encarregados do recenseamento
populacional, mandado fazer pelo Rei D. João III em todo o reino de
Portugal, registaram em 7 de setembro de 1527, na Câmara de Leiria, os
relativos à população de todo o concelho. Nesse ano a “Aldea
das Meyrinhas” tinha 9 vizinhos, isto é fogos. Já nessa época
apesar de ser reduzido o número de habitantes (seriam cerca de 40),
esse lugar era dos maiores da freguesia da Vermoil.
....Nos meados desse mesmo século, foi feito o primeiro mapa que apresenta
em grande escala integralmente o território português. Foi seu
autor Fernando Ávares Seco, que o executou em 1560, a pedido Aquiles
Estaco, para ser oferecido ao cardeal Guido Sforza, protector de Portugal em
Roma. Segundo os especialistas, o trabalho de levantamento para a execução
deste mapa terão sido feitos nos dez anos anteriores ou mesmo antes.
Depois de 1561, esse mapa foi sendo publicado no estrangeiro em muitas edições
e com muitas incorrecções nos topónimos. Precisamente
aparecem aí dois topónimos da região de Meirinhas: Os
Meirinhos (com til no i) e Frco Daranha. Numa lista de topónimos portugueses
redigida em 1530, este segundo nome está escrito: Sam Francisco da Ranha.
Embora tenhamos de reconhecer que há um erro na situação
exacta da capela, não há duvida que se trata da capela de S.
Francisco das Meirinhas, o que significa que esse templo já existia
desde os principios do século XVI.
....Temos de aguardar pelos meados do século XVII, para encontrar nova
referência a essa capela e lugar. O autor anónimo do Couseiro
ou Memórias do Bispado de Leiria, que escreveu cerca do ano de 1657,
regista precisamente uma capela “ no lugar de Meirinhas da invocação
de S. Francisco. Tinha essa capela uma imagem de vulto, fora feita para administração
dos sacramentos, e os moradores eram obrigados à fabrica dela.
....O facto desse autor – normalmente meticuloso em citar sempre os documentos
comprovativos dessas afirmações – não indicar a
data da fundação da capela nem os Livros de registo da Chancelaria
do Bispado de Leiria, onde essas fundações eram registadas desde
1545, poderá significar que a Capela das Meirinhas já existia
naquela data, em que a freguesia de Vermoil foi integrada na diocese de Leiria,
então criada.
....Num Prontuário da Terras de Portugal, datado do ano de 1689 registaram-se
os lugares de Meirinhas de Cima e do Palão, pertencentes ao termo do
concelho de Leiria.
....A capela de S. Francisco volta a ser referida no ano de 1712, na Corografia
Portuguesa de Padre António Carvalho da Costa, sob o nome errado de
S. Francisco de Marinhas. Em 6 de Maio de 1721, o pároco de Vermoil,
padre Feliciano da Silva Araújo, em informação fornecida à Academia
Real da História Portuguesa, dizia que no lugar de Meirinhas havia uma
capela “da invocação de S. Francisco”, fabricada
pela fábrica da Igreja Paroquial “mas não há noticia
de quem a erigiu nem do seu tempo”. O Provedor da Comarca de Leiria também
informou a mesma Academia, nesse mesmo ano de 1721, incorrendo no mesmo erro
de situar a Capela de S. Francisco na vintena da Ranha e mencionando, “entre
outros o lugar do Palão com 6 vizinhos” e o lugar das Meirinhas
com 20 vizinhos, isto é, cento e tal habitantes. Acrescenta ainda que
no lugar das Meirinhas havia uma outra ermida “ de Santo Elias”,
quando noutro lugar, refere correctamente a existência de um templo dedicado
e esse santo em Carnide.
....Num novo inquérito feito aos párocos de Portugal, no ano
de 1758, pela mesma Academia da História, de Vermoil, agora Padre Agostinho
Neto, dá algumas informações de interesse sobre as Meirinhas:
nessa altura as Meirinhas de Cima tinham 26 fogos com 33 homens e 40 mulheres
e as Meirinhas de Baixo 41 fogos com 50 homens e 57 mulheres. Ao todo portanto,
nesses dois lugares havia 67 fogos e 180 habitantes, dos quais 83 eram do sexo
masculino e 97 do sexo feminino.
....Esse aumento populacional relativamente ao ano de 1721 era sinal de grande
desenvolvimento social e económico, que não deixou de crescer.
De facto, em 1788, um grupo de moradores de Meirinhas (José Ferreira,
José Mendes, João Francisco e Manuel Afonso) dirigiram-se à Rainha
D. Maria I pedindo uma feira franca de gados para junto capela das Meirinhas.
Essa feira promoveria economicamente a região e beneficiaria também
a capela de S. Francisco, que era muito pobre, pois o concurso do povo à feira
traria aumento de esmolas a esse templo.
....Com despacho favorável do Desembargo do Paço, exarado em
12 de Junho de 1788, a Rainha atendeu o pedido dos Meirinhenses e mandou passar
carta de fundação duma feira, no dia 17 de Outubro do mesmo ano,
carta que foi publicada pelo Sr. Alfredo de Matos no Jornal “O Mensageiro
de Leiria” em 1964. Por essa carta, D. Maria I concedeu licença
para se fazer uma feira franca no dia 24 de cada mês, ou no dia seguinte,
se aquele dia calhasse num feriado.
....Diz aquele mesmo investigador, fundado num informador local que a parti
de 1909, a feira far-se-ia no dia 14. Em 1955 ou 1956; deixou de se fazer,
reaparecendo em 1963 no Alto do Covão. Estou informado de que essa feira
dos 14 já se faz outra vez junto da actual igreja. Regressou, assim,
esta feira ao primitivo lugar onde se começou a fazer, certamente logo
em 1788. (fez, em 1998, duzentos anos) É uma coincidência feliz
De esta instituição social e económica acompanhar de perto
uma igreja que está agora a iniciar uma nova fase, depois de uma inauguração,
em 9 de Outubro de 1983, como centro duma comunidade viva a que se augura um
futuro feliz.
....Ao terminar esses apontamentos, uma breve referência ao topónimo
de Meirinhas. As duas formas que surgem na documentação ( Meirinhos
e Meirinhas) relacionam segundo creio, o nome lugar com o cargo de meirinho,
antigo oficial de justiça que corresponde ao actual oficial de diligências,
e que tinha o poder de prender, citar, penhorar e de executar outros mandatos."
Luciano Cristino In “Voz do Domingo” de
27 de Abril de 1986
|